De 1º de novembro a 15 de fevereiro, o Santander Cultural expõe o universo de um dos maiores pensadores do século XX. A mostra Gilberto Freyre – Intérprete do Brasil traz uma retrospectiva do intelectual considerado o Pai da Antropologia Cultural do País. Autor de Casa Grande & Senzala, uma obra clássica e revolucionária da sociologia brasileira, Freyre produziu clássicos que vão desde fundamentos das ciências sociais até o despertar para temas como ecologia, arquitetura, moda e gastronomia.
A mostra, realizada pelo Santander Cultural, Instituto Brasil Leitor e Fazer Arte,tem parceria do Museu da Língua Portuguesa, que criou e apresentou a exposição em São Paulo no início deste ano. Gilberto Freyre – Intérprete do Brasil está diretamente ligada a 54ª Feira do Livro de Porto Alegre, que também abre em 31 de outubro e tem Pernambuco, onde Freyre nasceu, como Estado Convidado. A Feira do Livro é parceira do Santander Cultural há sete anos, articulador do intercâmbio dos dois estados para o evento de 2008.
Com o acervo da Fundação Gilberto Freyre e a coleção particular de Fernando e Sônia Freyre, o público será convidado a conhecer a essência do vasto trabalho do intelectual. Desenhos, pinturas, manuscritos originais de seus livros, documentos pessoais, fotografias, as primeiras edições de seus títulos publicados e documentos originários de suas pesquisas estão na mostra.
Um dos grandes destaques de Gilberto Freyre – Intérprete do Brasil, são as cartas trocadas com personalidades como Erico Veríssimo e Carlos Drummond de Andrade. O conteúdo da mostra, com curadoria de Julia Peregrino, Elide Rugai Bastos e Pedro Karp Vasquez, estará disposto em ambientes criados em detalhes para representar a residência do historiador em Pernambuco.
“Mais do que apresentarmos um amplo panorama da obra de um homem ousado e polêmico, à frente de seu tempo, relacionando-a com a história do País, queremos fazer despertar no público o senso de que nosso maior patrimônio está na diversidade do diálogo das nossas expressões cotidianas”, afirma Liliana Magalhães, superintendente do Santander Cultural.
Gilberto Freyre – Intérprete do Brasil é a terceira grande mostra de artes visuais realizada pelo instituto este ano. Essa é também a segunda vez que o Santander Cultural dedica uma mostra deste gênero à Feira do Livro – a primeira foi em 2004, durante as comemorações dos 50 anos da Feira do Livro, com a OLHO VIVO - a arte da fotografia, que reuniu as mostras 50 Anos de Europa de Cartier Bresson e 50 Anos da Arte Fotógrafica Brasileira, abrangendo obras do acervo do Museu de Arte Moderna –MAM de São Paulo.
Freyre, revolucionário e polêmico
Nascido em 15 de março de 1900 em Recife (PE), Freyre formou-se em Ciências e Letras, no Brasil, e em Ciências Políticas, nos Estados Unidos, onde viveu de 1918 a 1922. Passa uma temporada na Europa, onde conhece os artistas brasileiros Vicente do Rego Monteiro, Tarsila do Amaral e Victor Brecheret, antes de regressar ao País em 1923.
Atuando na área acadêmica, no jornalismo e na política, se exila em Portugal em 1930. No mesmo ano, ao visitar Portugal, dá início às pesquisas que serviriam de base para Casa Grande & Senzala, seu livro mais popular, publicado em 1933. A obra é considerada uma revolução no estudo da história brasileira. Nele, a narrativa se voltava para a vida cotidiana dos escravos e senhores, valorizando a herança dos negros e criando uma nova imagem para o País — a de uma nação privilegiada, onde as várias raças e culturas se uniram para formar uma sociedade mestiça. O tema ressurge em outras obras como, por exemplo, Sobrados e Mucambos. O regionalismo nordestino também marca a sua produção, como em Nordeste: aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste do Brasil e Açúcar e Olinda.
Freyre dividiu opiniões da comunidade intelectual brasileira nas décadas de 1940 e 1950. Mas a sociedade não deixou de exaltar o seu brilhantismo, inclusive com a indicação de seu nome ao Prêmio Nobel de Literatura em 1946. No entanto, a partir dos anos 1980, o caráter pioneiro e revolucionário dos livros de Freyre obteve o merecido reconhecimento, assim como a sua contribuição para a análise da sociedade brasileira. Agraciado com inúmeros prêmios no Brasil e no exterior, o intelectual morre em 1987, meses depois da criação da fundação que leva o seu nome. |